Na postagem de hoje, estarei observando e trazendo a lume, o sentido escriturístico de Lucas, o autor do terceiro evangelho, com uma conotação ainda mais abrangente e incisiva, mais voltada para o aspecto da escrita e alguns propósitos do autor ao escrever este evangelho.
Lucas foi
escrito do ponto de vista de um historiador. O autor estava preocupado com
precisão cronológica e geográfica. Lucas é o único evangelista que liga seus
eventos narrativos à história secular. Ele também prestou atenção a pequenos
detalhes pessoais, como a intensidade de uma febre ou a extensão da lepra de um
homem (4.38; 5.12).
Ademais, Lucas é
o mais literário de todos os Evangelhos. Embora não se alcance o nível
estilístico de Hebreus, o grego de Lucas é muito mais polido e gramatical do
que de qualquer outro autor do Novo Testamento. Isto não o impede de permitir
alguns hebraísmos e aramaísmos em seu texto; estes servem, na verdade, para
destacar sua abordagem de testemunha ocular para coletar dados. As preocupações teológicas de Lucas
incluem o Espírito Santo (com atenção específica para o fenômeno que ele
descreve como ἐπιήζζε
πλεύκαηνο
ἁγίνπ [eplesthē pneumatos hagiou], que é freqüente em Atos), o escopo
universal da missão redentora de Cristo como o Filho do Homem (cf. 19.10
e 24.47), o ministério dos anjos em relação à pessoa de Jesus Cristo (mais de
vinte referências), e o deslocamento deliberado de Cristo (e sua mensagem do
Reino) rumo a Jerusalém, que cobre doze capítulos no livro. A discussão do
propósito do Evangelho de Lucas precisa levar em consideração dois fatores
importantes diretamente relacionados ao seu texto. O primeiro é o prólogo
(1.1-4), que oferece uma clara indicação dos resultados que Lucas esperava
alcançar com a composição da sua obra, a saber, dar uma base histórica para a
fé que Teófilo exercia em Cristo. Isto é o que poderíamos chamar um propósito
pastoral-apologético para o Evangelho.
Segundo, é preciso considerar o epílogo
(24.45-53), que aponta para uma continuação da saga do Reino, visto que as
testemunhas permanecem em Jerusalém esperando o cumprimento da promessa para
que a mensagem do Reino seja efetivamente levada a todas as nações. Essa última
observação é bem resumida por Guthrie, que propõe que o propósito de Lucas era
de descrever os primórdios de um processo que se espalhou além de Jerusalém até
o coração do próprio Império Romano. Ainda assim, o Evangelho está completo
em si e carrega esse propósito teológico de demonstrar que a pregação da
mensagem do Reino aos gentios é legítima à luz da rejeição de Israel para com
Jesus como o Filho do Homem.
Outra teoria
muito mencionada sobre o propósito de Lucas-Atos é a teoria da defesa legal,
que vê a obra de dois volumes como uma vindicação do cristianismo como uma
religião que desde o princípio encontrou favor com as autoridades romanas (cf.
a tripla referência à opinião de Pilatos de que Jesus era inocente).