terça-feira, 13 de julho de 2010

Após ter apresentado um vídeo com uma breve exposição filsófica, por mim desenvolvida, justamente para desenvolver uma interdisciplinariedade no blog, como tambem estar expondo um pouco de minha atuação num ambito verbal e expositivo,agora retorno a uma postagem dentro de uma perspctiva da teologia contemporânea; falando sobre Barth e seu posicionamento teológico, a partir de pontos contidos em seu famoso livro sobre Romanos.

O POSICIONAMENTO TEOLÓGICO DE BARTH.

 
Johann Christoph Blumhardt transmitiu a Barth a esperança escatológica e universal do Evangelho. De Christoph Blumhardt, o filho, Barth aprendeu que a esperança não leva a um quietismo, mas ao pleno engajamento no mundo. Mas foi diretamente na Bíblia que Barth procurou as respostas para a vida. Realizou esse empreendimento com seu amigo Eduard Thurneysen. Em 1916, os dois começaram a estudar juntos a carta aos Romanos. Junto com Eduard Thurneysen, Barth iniciou o movimento ad fontes, voltando-se para a Escritura Sagrada e a teologia dos Reformadores. Em 1919, Barth escreveu o Comentário à Carta aos Romanos. Em 1922, ele escreveu a segunda edição, completamente reformulada, marcando o surgimento da teologia dialética, também conhecida por “teologia da crise” (ou da ruptura) – por causa da crise sócio-econômica e cultural (a guerra acabou com o otimismo do progresso). “Nesta segunda redação do livro eliminei na medida do possível tudo o que na primeira pudesse deixar entender que a Teologia se funda, se apóia sobre uma Filosofia da existência ou dela receba a justificação.” Portanto, a segunda edição do Comentário à Carta aos Romanos é o documento histórico que marca o início da teologia da crise, pois Barth designava a Palavra de juízo divino contra todo o empreendimento humano. O ser humano é descrito como um pecador que virou as costas para Deus, encontrando-se agora numa espécie de cegueira. Por si mesmo, o homem não possui a capacidade de conhecer a Deus. O conhecimento de Deus é uma dádiva a ser recebida pela fé em Cristo. O ser humano precisa se confrontar com a graça revelada em Cristo.
O filósofo e teólogo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855) posicionou-se contra o sistema filosófico de Hegel. Kierkegaard não admitia que a responsabilidade pessoal fosse reduzida a “um momento” dentro do processo cósmico, que é a marcha do Espírito em direção ao Absoluto. Também via com estupefação o fato de a Dinamarca ter aderido a essa filosofia. Escreveu Ataque contra a cristandade, salientando que, numa sociedade onde todas as pessoas são “cristãs”, o verdadeiro cristianismo já deixou de existir. Kierkegaard dizia que existe um abismo entre o divino e o humano. E a filosofia de Hegel insistia numa continuidade. Kierkegaard acusou a elite cultural de estar conspirando para destruir o cristianismo autêntico. Kierkegaard salientou que existe uma “diferença qualitativa infinita” entre Deus e os seres humanos. Em sua queda e finitude, os seres humanos precisam acolher a verdade de Deus mediante uma decisão, um “salto de fé”. Conhecer a Deus é uma atitude de fé, o que significa correr o risco de saltar. Deus é pessoal, santo e transcendente. Os seres humanos são finitos, pecadores e dependentes. Deus só pode ser conhecido mediante um relacionamento pessoal. Somente o “salto de fé”, o risco pode nos proporcionar o verdadeiro relacionamento com Deus. Enquanto não houver o “salto de fé”, podemos ter uma religiosidade ética, mas não seremos cristãos autênticos. Barth se identificou com o posicionamento de Kierkegaard contra o cristianismo cultural e a filosofia de Hegel de continuidade entre Deus e o mundo, reino de Deus e cultura. Também Barth entendeu que a fé cristã consiste no relacionamento entre o Deus santo e o ser humano finito e pecador. Era necessário enfatizar a transcendência de Deus, pois a teologia liberal havia encoberto esses temas com o racionalismo e a moralidade. Respaldado pela reflexão de Kierkegaard, Karl Barth pôde declarar que a fé cristã não é uma religião entre as outras, nem o ponto culminante dos sentimentos religiosos da humanidade, nem um sistema de moralidade, nem uma expressão cultural a serviço de alguma ideologia sócio-política. No prefácio da segunda edição do Comentário à Carta aos Romanos, em 1922, Barth mostrou seu reconhecimento à reflexão de Kierkegaard. “Se tenho um sistema, ele está limitado ao reconhecimento do que Kierkegaard chamou de “distinção qualitativa infinita” entre o tempo e a eternidade, e à minha opinião de que ela possui uma relevância negativa tanto quanto positiva: “Deus está no céu e tu estás na terra”. O relacionamento entre esse homem e esse Deus é, para mim, o tema da Bíblia e a essência da filosofia.” Kierkegaard declarou que a encarnação de Jesus Cristo é um “paradoxo absoluto”. E Barth constatou que a fé cristã não é uma síntese de opostos (como propunha Hegel). As verdades básicas da Palavra de Deus contêm paradoxo.
Barth redescobriu o Evangelho sem o auxílio de um sistema humano. E assim teve início a “teologia da Palavra de Deus”. Seu postulado teológico é que “a possibilidade do conhecimento de Deus encontra-se na Palavra de Deus e em nenhum outro lugar”. Portanto, “o Deus eterno deve ser conhecido em Jesus Cristo e não em outro lugar.” A teologia dialética não rejeita, mas questiona o método histórico-crítico como chave de interpretação da Bíblia. O ambiente acadêmico da teologia liberal vinha apresentando o método histórico-crítico corno a única chave para interpretar a Bíblia. A interpretação histórico-crítica se concentra demasiadamente em questões periféricas, ao passo que Barth enfatizava a proclamação (querigma) como sendo o fundamental. Considerava a exposição dialética mais importante do que uma exposição filológica e histórica. Bart considerou que o método histórico-crítico tem aspectos positivos. Mas, posicionou-se contra o “abuso idealista e reacionário desse método”. Barth observa que a ideologia progressista da filosofia de Hegel foi desmentida pela Primeira Guerra Mundial. O desmoronamento cultural era uma evidência disso. Não há como estabelecer uma síntese entre a fé cristã e a ideologia do progresso cultural. Barth aponta para a centralidade da Sagrada Escritura, o documento da revelação de Deus. Barth aconselha que sejam respeitados os limites do método histórico-crítico. A autoridade da Palavra de Deus não pode ser submetida a critérios de pesquisa. A razão humana não pode ser o critério último para a análise dos escritos bíblicos. Nesse caso, corre-se o perigo de identificar Espírito Santo com razão humana. O método histórico-crítico corre o risco de identificar interpretação racional com a Palavra de Deus. Tornou-se paradigmática a declaração de Barth: “Mais críticos deveriam ser os histórico-críticos.” A pesquisa histórica não pode suplantar a eficácia da revelação divina “na Palavra”. A reverência pela histórica não pode resultar em desconsideração acrítica pela Palavra que está por trás das palavras. Barth aponta para o caráter reacionário do método histórico-crítico, pois a dinâmica escatológica da Palavra por trás das palavras deixa de ser assimilada quando toda a tradição da fé é medida pela norma do existente. O método histórico-crítico considera como o histórico apenas o analógico (baseado em semelhança). Tudo o que foge dos esquema de analogia (relação de semelhança) é rotulado de simbólico, lendário e mitológico. Os conceitos de fé naufragam na “onipotência” da analogia. Os conteúdos decisivos da fé cristã devem permanecer com seu caráter transformador. A dinâmica escatológica não poder ser nivelada dentro de um processo histórico-analógico. Deve ser preservada a dimensão escatológica do agir divino – o totaliter aliter (o Totalmente Outro). A dialética acentua o contraste entre a eternidade e o tempo, entre Deus e a humanidade. O método dialético coloca os pontos de vista diferentes em confronto. Obtém-se assim um equilíbrio entre as declarações que afirmam e as que negam certa proposição. Desse modo, as respostas são interrogadas, e as perguntas, respondidas. “Apenas resta, pois ... relacionar ambos, o positivo e o negativo, um com o outro. Para esclarecer o sim pelo não e o não pelo sim, sem nos demorarmos mais que um momento no sim ou no não; deste modo, por exemplo, falando da glória de Deus na criação apenas para passar imediatamente a ressaltar que Deus está completamente oculto a nós na natureza, e falar da morte e da transitoriedade da vida apenas para lembrar a majestade da vida inteiramente outra que vem a nosso encontro nessa própria morte.”

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