sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012


A CARIDADE O AMOR EXEMPLAR. 


Os amores naturais não são auto-suficientes. Algo mais, a princípio vagamente descrito como “decência e senso comum”, mas depois revelado como bondade e finalmente como o total da vida cristã numa relação particular, deve vir em ajuda do mero sentimento caso este deva manter-se agradável. Dizer isto não é depreciar os amores naturais mas indicar onde se acha a sua verdadeira glória. Não é desprezo pelo jardim dizer-lhe que não poderá tirar sozinho as ervas daninhas nem podar as árvores frutíferas ou colocar uma cerca ao seu redor, ou mesmo cortar a grama. Um jardim é uma coisa boa, mas essa não é a espécie de bondade que ele possui, pois permanecerá um jardim, distinto de uma selva somente se alguém fizer todas essas coisas para ele. Sua verdadeira glória é de um tipo muito diferente. O próprio fato de necessitar cuidados constantes dá testemunho dessa glória. Ele fervilha de vida. Ele resplandece em cores e aromas celestiais e apresenta a cada hora de um dia de verão belezas que o homem jamais poderia ter criado nem mesmo imaginado com seus próprios recursos. Se você quiser ver a diferença entre a contribuição dele e a do jardineiro, coloque o mato mais comum que nele cresce lado a lado com as enxadas, ancinhos, tesouras de podar e pacote de inseticida; você colocou beleza, energia e fecundidade ao lado de coisas mortas, estéreis. Assim também a nossa “decência e bom senso” se mostram cinzas e cadavéricos ao lado da genialidade do amor. E, quando o jardim se encontra em plena glória, as contribuições do jardineiro para essa glória continuarão desprezíveis quando comparadas às da natureza.
Sem a vida brotando da terra, sem a chuva, a luz e o calor descendo do céu, ele nada poderia fazer. Depois de ter feito tudo, simplesmente encorajou aqui e desencorajou ali, poderes e belezas de uma fonte diferente. A sua contribuição, porém, embora pequena, é indispensável e laboriosa. Quando Deus plantou um jardim, Ele colocou um homem sobre o mesmo e este debaixo das suas ordens. Quando Ele plantou o jardim da nossa natureza e fez com que amores brotassem e frutificassem nele estabeleceu que “cuidássemos” deles.
Comparada com os mesmos ela é seca e fria e a não ser que a graça divina desça, com a chuva e o sol, usaremos em vão este instrumento. Mas os seus serviços laboriosos, e na maioria negativos, são indispensáveis. Se eles foram necessários enquanto o jardim era ainda paradisíaco, quanto mais agora quando o solo se contaminou e as piores espécies de ervas daninhas parecem crescer alegremente nele? Mas, não permita o céu que labutemos com espirito de presunção e estoicismo. Enquanto ceifamos e podamos sabemos muito bem que aquilo em que estamos trabalhando está cheio de um esplendor e vitalidade que nossa vontade racional jamais poderia ter suprido por si mesma. Liberar esse esplendor, fazer com que se torne completamente aquilo que está tentando ser, obter apenas árvores altas em lugar de moitas emaranhadas, e maçãs doces em lugar de azedas, é parte de nosso propósito. Mas apenas parte. Pois devemos encarar agora um tópico que deixei para o final. Até aqui quase não disse nada sobre os nossos amores naturais rivalizarem com o amor de Deus. A questão não pode mais entretanto ser evitada. Existem duas razões para tê-la posto de lado até este momento. Uma delas, já insinuada, é que não é neste ponto que a maioria de nós precisa começar. A questão, no início, raramente é dirigida à nossa condição, pois para a maioria de nós a verdadeira rivalidade se acha entre o “eu” e o “Outro” humano, e não ainda entre o “Outro” humano e Deus. E perigoso pressionar sobre alguém o dever de ultrapassar o amor terreno quando sua real dificuldade está em chegar até esse ponto. Sem dúvida é fácil amar menos nosso semelhante e imaginar que isso está acontecendo porque estamos aprendendo a amar mais a Deus, quando a verdadeira razão pode ser muito diversa. Podemos estar somente “confundindo a deterioração da natureza pelo crescimento na Graça”. Muitas pessoas acham realmente difícil odiar suas esposas ou mães.