segunda-feira, 13 de abril de 2015

CONFLITOS RELIGIOSOS NA ÓTICA DE NIEBHUR

     Desenvolve-se nos nossos dias debate multiforme acerca das relações entre Cristianismo e civilização. Historiadores e teólogos, estadistas e clérigos, católicos e protestantes, cristãos e anticristãos participam dele. Publicamente o mesmo se manifesta nas atividades de facções rivais e, intimamente, nos conflitos de consciência. Algumas vezes se concentra em questões específicas. Por exemplo, a que se refere ao papel da fé cristã dentro das diretrizes gerais da educação, ou à importância da ética cristã para a vida econômica. Às vezes envolve questões mais amplas, como a responsabilidade da Igreja para com a ordem social ou a necessidade de os seguidores de Cristo se separarem novamente do mundo.

     O debate é tão multiforme quanto confuso. Quando a questão parece ter sido claramente definida como situada entre os expoentes de uma civilização cristã e os defensores não cristãos de uma sociedade totalmente secularizada, novas perplexidades surgem, visto que crentes devotos parecem estar advogando a mesma causa dos secularistas, postulando, por exemplo, a eliminação da religião da área da educação pública ou o apoio do cristão a movimentos políticos aparentemente anticristãos. Tantas vozes são ouvidas, tantas asserções confiantes más divergentes são feitas a respeito da resposta cristã ao problema social, tantas questões são levantadas, que o desnorteamento e a incerteza cercam a muitos. 

Será bom lembrar, neste ponto, que a questão Cristianismo e civilização não é, de modo nenhum, nova; que nesta área a perplexidade cristã tem sido perene e que o problema tem atravessado os séculos da nossa era cristã. É bom recordar, também, que as repetidas lutas dos cristãos com este problema não produziram uma resposta cristã única, exclusiva, mas apenas uma série de respostas típicas que, em seu conjunto, para a fé, representam fases da estratégia da Igreja militante no mundo. Essa estratégia, contudo, por estar na mente do Capitão, antes que nas dos tenentes, não está sob o controle dos últimos. A resposta de Cristo ao problema da cultura humana é uma coisa. As respostas cristãs são outra coisa; e os seguidores de Cristo estão convictos, de que ele usa as suas várias obras para cumprir a Sua própria. O propósito dos capítulos seguintes é apresentar respostas cristãs típicas ao problema Cristo e cultura e assim contribuir para a compreensão mútua dos várias vezes em conflito. A crença que paira atrás deste esforço é, contudo, a convicção de que Cristo, como senhor vivente, está respondendo a esta questão na totalidade da história e da vida, de um modo que transcende a sabedoria de todos os seus intérpretes, utilizando-lhes, todavia, as percepções parciais e os inevitáveis conflitos.