quarta-feira, 15 de outubro de 2014

RELIGIÃO NO PERÍODO DO ILUMINISMO

        A era do Iluminismo desafiou os pontos de vista tradicionais e reformulou o pensamento em todas as áreas da sociedade ocidental. Porém, nenhuma dimensão foi mais afetada do que a crença religiosa. A Idade da Razão marcou a emancipação da cultura em relação ao domínio da igreja e do Cristianismo.
O movimento em direção à autonomia veio como resultado inevitável da nova mentalidade da época, dando início a uma outra visão da natureza da religião. Cada vez mais, os cientistas e teólogos passaram a diferenciar a “religião natural”  a existência de Deus e as leis morais racionalmente demonstráveis e conhecidas por todas as pessoas - e a “religião revelada” - as doutrinas conforme eram ensinadas pela Bíblia e pela igreja. Com o passar do tempo, esta segunda forma de religião começou a ser cada vez mais atacada e a primeira forma, elevada a condição de verdadeira religião. No final, a “religião natural” do Iluminismo ou religião da razão substituiu o enfoque tão característico da Idade Média e da Reforma sobre o dogma e a doutrina.
       O caminho intelectual para a primazia da religião natural sobre a religião revelada foi aberto pelo empirista britânico John Locke. Ele lançou a tese revolucionária de que, uma vez destituído de sua bagagem dogmática, o Cristianismo era a manifestação religiosa mais racional. Sobre as bases dessa visão de Locke, os pensadores do Iluminismo construíram o deísmo - uma alternativa teológica para
a ortodoxia. Os teólogos do deísmo desejavam reduzir a religião a seus elementos mais básicos, universais e, portanto, racionais. Os deístas acrescentavam ainda que, pelo fato de a religião natural ser racional, todas as religiões, inclusive o Cristianismo, deveriam estar em conformidade com ela. Como resultado, os vários dogmas da igreja considerados revelação já não serviam mais de parâmetro. Ao invés disso, as doutrinas deveriam ser avaliadas através da comparação com a religião da razão. O resultado foi uma religião que consistia em um número mínimo de dogmas para se crer: a existência de Deus, que podia ser provada através do mundo, a imortalidade da alma, e o castigo pelo pecado e bênção pela virtude recebidos após a morte. Na verdade, os deístas não viam a religião em sua essência como um sistema de crenças. O mais importante era o seu significado ético. Eles partiam do pressuposto de que o papel principal da religião era oferecer sanção divina para a moralidade. Ao mesmo tempo, 
      O Iluminismo elevava a capacidade humana de obter as verdades religiosas, reduzindo - ou até mesmo eliminando - a necessidade de uma religião revelada. Aquilo que era verdadeiramente importante havia sido escrito pelo Criador no grande livro da natureza e deixado aberto para que todos pudessem lê-lo. Como conseqüência, algumas vozes do Iluminismo criticaram duramente o Cristianismo, afirmando que, pelo menos em sua forma tradicional, ele era uma deturpação da religião da razão. Os pensadores do Iluminismo também atacaram os pilares centrais da apologética cristã daquela época - a crença nas profecias cumpridas e nos milagres e responsabilizaram as autoridades eclesiásticas pela ignorância e superstição do passado.