quinta-feira, 2 de abril de 2015

LUCAS E SUA FORMA ESCRITA NO EVANGELHO.



       Na postagem de hoje, estarei observando e trazendo a lume, o sentido escriturístico de Lucas, o autor do terceiro evangelho, com uma conotação ainda mais abrangente e incisiva, mais voltada para o aspecto da escrita e alguns propósitos do autor ao escrever este evangelho.  
    Lucas foi escrito do ponto de vista de um historiador. O autor estava preocupado com precisão cronológica e geográfica. Lucas é o único evangelista que liga seus eventos narrativos à história secular. Ele também prestou atenção a pequenos detalhes pessoais, como a intensidade de uma febre ou a extensão da lepra de um homem (4.38; 5.12).
Ademais, Lucas é o mais literário de todos os Evangelhos. Embora não se alcance o nível estilístico de Hebreus, o grego de Lucas é muito mais polido e gramatical do que de qualquer outro autor do Novo Testamento. Isto não o impede de permitir alguns hebraísmos e aramaísmos em seu texto; estes servem, na verdade, para destacar sua abordagem de testemunha ocular para coletar dados.  As preocupações teológicas de Lucas incluem o Espírito Santo (com atenção específica para o fenômeno que ele descreve como πιήζζε πλεύκαηνο ἁγίνπ [eplesthē pneumatos hagiou], que é freqüente em Atos), o escopo universal da missão redentora de Cristo como o Filho do Homem (cf. 19.10 e 24.47), o ministério dos anjos em relação à pessoa de Jesus Cristo (mais de vinte referências), e o deslocamento deliberado de Cristo (e sua mensagem do Reino) rumo a Jerusalém, que cobre doze capítulos no livro. A discussão do propósito do Evangelho de Lucas precisa levar em consideração dois fatores importantes diretamente relacionados ao seu texto. O primeiro é o prólogo (1.1-4), que oferece uma clara indicação dos resultados que Lucas esperava alcançar com a composição da sua obra, a saber, dar uma base histórica para a fé que Teófilo exercia em Cristo. Isto é o que poderíamos chamar um propósito pastoral-apologético para o Evangelho.
     Segundo, é preciso considerar o epílogo (24.45-53), que aponta para uma continuação da saga do Reino, visto que as testemunhas permanecem em Jerusalém esperando o cumprimento da promessa para que a mensagem do Reino seja efetivamente levada a todas as nações. Essa última observação é bem resumida por Guthrie, que propõe que o propósito de Lucas era de descrever os primórdios de um processo que se espalhou além de Jerusalém até o coração do próprio Império Romano. Ainda assim, o Evangelho está completo em si e carrega esse propósito teológico de demonstrar que a pregação da mensagem do Reino aos gentios é legítima à luz da rejeição de Israel para com Jesus como o Filho do Homem.

    Outra teoria muito mencionada sobre o propósito de Lucas-Atos é a teoria da defesa legal, que vê a obra de dois volumes como uma vindicação do cristianismo como uma religião que desde o princípio encontrou favor com as autoridades romanas (cf. a tripla referência à opinião de Pilatos de que Jesus era inocente).