sábado, 25 de abril de 2015

FUTILIDADE É O DESNECESSARIO?

É muito provável que o emprego paulino de mataiotês tenha sido instruído pela LXX, em especial pelo Eclesiastes. Embora o adjetivo mataios fosse empregado com regularidade na literatura grega para descrever o que é vão ou vazio, na literatura grega que foi conservada mataiotês é raramente empregado em comparação com a LXX, onde é usado muitas vezes com o sentido de “inutilidade”, “falta de valor”, ou “futilidade” (Bauemfeind, 523). No Eclesiastes (1,2.14; 2,1. 11.15.17 etc.), a expressão aparece repetidamente no refrão negativo: mataiotês mataiotêtõn, ta panta mataiotês. Devido às muitas conotações de mataiotês, é difícil traduzir nas línguas ocidentais esse coro repetido. A tradução tradicional: “vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, encontrada em muitas traduções, está sendo substituída por tentativas mais criativas de captar o sentido Coélet indica a futilidade de todos os esforços humanos que buscam trazer satisfação duradoura em si e por si. Seria o mesmo que “perseguir vento” (Ecl 2,11). Só é possível encontrar sentido permanente e contentamento duradouro em Deus, que transcende a existência humana e com quem não há mataiotês. A futilidade é uma circunstancia que nos inquieta, por ser o improvável para alguns, outros luxo desnecessário; porém é o substancial para nossos auspícios de vida. Porém para Paulo é inutilidade, em muitas das situações do Ser em suas ansiedades e anseios. 

segunda-feira, 13 de abril de 2015

CONFLITOS RELIGIOSOS NA ÓTICA DE NIEBHUR

     Desenvolve-se nos nossos dias debate multiforme acerca das relações entre Cristianismo e civilização. Historiadores e teólogos, estadistas e clérigos, católicos e protestantes, cristãos e anticristãos participam dele. Publicamente o mesmo se manifesta nas atividades de facções rivais e, intimamente, nos conflitos de consciência. Algumas vezes se concentra em questões específicas. Por exemplo, a que se refere ao papel da fé cristã dentro das diretrizes gerais da educação, ou à importância da ética cristã para a vida econômica. Às vezes envolve questões mais amplas, como a responsabilidade da Igreja para com a ordem social ou a necessidade de os seguidores de Cristo se separarem novamente do mundo.

     O debate é tão multiforme quanto confuso. Quando a questão parece ter sido claramente definida como situada entre os expoentes de uma civilização cristã e os defensores não cristãos de uma sociedade totalmente secularizada, novas perplexidades surgem, visto que crentes devotos parecem estar advogando a mesma causa dos secularistas, postulando, por exemplo, a eliminação da religião da área da educação pública ou o apoio do cristão a movimentos políticos aparentemente anticristãos. Tantas vozes são ouvidas, tantas asserções confiantes más divergentes são feitas a respeito da resposta cristã ao problema social, tantas questões são levantadas, que o desnorteamento e a incerteza cercam a muitos. 

Será bom lembrar, neste ponto, que a questão Cristianismo e civilização não é, de modo nenhum, nova; que nesta área a perplexidade cristã tem sido perene e que o problema tem atravessado os séculos da nossa era cristã. É bom recordar, também, que as repetidas lutas dos cristãos com este problema não produziram uma resposta cristã única, exclusiva, mas apenas uma série de respostas típicas que, em seu conjunto, para a fé, representam fases da estratégia da Igreja militante no mundo. Essa estratégia, contudo, por estar na mente do Capitão, antes que nas dos tenentes, não está sob o controle dos últimos. A resposta de Cristo ao problema da cultura humana é uma coisa. As respostas cristãs são outra coisa; e os seguidores de Cristo estão convictos, de que ele usa as suas várias obras para cumprir a Sua própria. O propósito dos capítulos seguintes é apresentar respostas cristãs típicas ao problema Cristo e cultura e assim contribuir para a compreensão mútua dos várias vezes em conflito. A crença que paira atrás deste esforço é, contudo, a convicção de que Cristo, como senhor vivente, está respondendo a esta questão na totalidade da história e da vida, de um modo que transcende a sabedoria de todos os seus intérpretes, utilizando-lhes, todavia, as percepções parciais e os inevitáveis conflitos.
      

quinta-feira, 2 de abril de 2015

LUCAS E SUA FORMA ESCRITA NO EVANGELHO.



       Na postagem de hoje, estarei observando e trazendo a lume, o sentido escriturístico de Lucas, o autor do terceiro evangelho, com uma conotação ainda mais abrangente e incisiva, mais voltada para o aspecto da escrita e alguns propósitos do autor ao escrever este evangelho.  
    Lucas foi escrito do ponto de vista de um historiador. O autor estava preocupado com precisão cronológica e geográfica. Lucas é o único evangelista que liga seus eventos narrativos à história secular. Ele também prestou atenção a pequenos detalhes pessoais, como a intensidade de uma febre ou a extensão da lepra de um homem (4.38; 5.12).
Ademais, Lucas é o mais literário de todos os Evangelhos. Embora não se alcance o nível estilístico de Hebreus, o grego de Lucas é muito mais polido e gramatical do que de qualquer outro autor do Novo Testamento. Isto não o impede de permitir alguns hebraísmos e aramaísmos em seu texto; estes servem, na verdade, para destacar sua abordagem de testemunha ocular para coletar dados.  As preocupações teológicas de Lucas incluem o Espírito Santo (com atenção específica para o fenômeno que ele descreve como πιήζζε πλεύκαηνο ἁγίνπ [eplesthē pneumatos hagiou], que é freqüente em Atos), o escopo universal da missão redentora de Cristo como o Filho do Homem (cf. 19.10 e 24.47), o ministério dos anjos em relação à pessoa de Jesus Cristo (mais de vinte referências), e o deslocamento deliberado de Cristo (e sua mensagem do Reino) rumo a Jerusalém, que cobre doze capítulos no livro. A discussão do propósito do Evangelho de Lucas precisa levar em consideração dois fatores importantes diretamente relacionados ao seu texto. O primeiro é o prólogo (1.1-4), que oferece uma clara indicação dos resultados que Lucas esperava alcançar com a composição da sua obra, a saber, dar uma base histórica para a fé que Teófilo exercia em Cristo. Isto é o que poderíamos chamar um propósito pastoral-apologético para o Evangelho.
     Segundo, é preciso considerar o epílogo (24.45-53), que aponta para uma continuação da saga do Reino, visto que as testemunhas permanecem em Jerusalém esperando o cumprimento da promessa para que a mensagem do Reino seja efetivamente levada a todas as nações. Essa última observação é bem resumida por Guthrie, que propõe que o propósito de Lucas era de descrever os primórdios de um processo que se espalhou além de Jerusalém até o coração do próprio Império Romano. Ainda assim, o Evangelho está completo em si e carrega esse propósito teológico de demonstrar que a pregação da mensagem do Reino aos gentios é legítima à luz da rejeição de Israel para com Jesus como o Filho do Homem.

    Outra teoria muito mencionada sobre o propósito de Lucas-Atos é a teoria da defesa legal, que vê a obra de dois volumes como uma vindicação do cristianismo como uma religião que desde o princípio encontrou favor com as autoridades romanas (cf. a tripla referência à opinião de Pilatos de que Jesus era inocente).