LIBERALISMO E MODERNISMO O CONFRONTO A ORTODOXIA. p/1
Os
termos “liberalismo” ou “modernismo” são de difícil definição. Primeiro, porque
era coisa muito comum, durante os conflitos assinalados entre fundamentalistas
e liberais, sempre que alguém não fosse fundamentalista, automaticamente ser
posto no rol dos liberais ou modernistas. Os dois termos são empregados como
sinônimos, embora não tenham faltado tentativas de diferenciá-los. Um outro
problema associado às tentativas de definição é o fato de que o liberalismo é,
por sua própria natureza, de tal ordem, que muitas posições podem estar
contidas em seu escopo.
Apesar
de suas variedades, o liberalismo assumiu, na opinião de grande parte de seus
defensores dos primeiros anos do século, o significado de uma reconstrução do
cristianismo ortodoxo. Não obstante o fato de que os fundamentalistas
considerassem os liberais como verdadeiros subversores da fé, os liberais se
tinham a si mesmos como salvadores da essência do cristianismo. No entender dos
liberais, eram os fundamentalistas que estavam levando o cristianismo a perder
sua influência, pela insistência que faziam em mantê-lo em moldes envelhecidos,
fazendo-o impossível de ser aceito por pessoas inteligentes. Típica da atitude
dos liberais era a declaração muito difundida, feita por Fosdick, de que, para
ele, o problema não estava na enunciação de uma nova ou de uma velha teologia,
pois o problema real era o de ter-se uma nova teologia ou não se ter nenhuma
teologia.
Para
que possamos entender o liberalismo, temos de saber de que nele se encontram
dois elementos. Há, antes de qualquer coisa, as considerações relacionadas com
o método próprio do liberalismo, isto é, o método que significa a capacidade
conferida aos liberais de, provavelmente, chegar a conclusões diversas. Em
adição a isso, deve-se considerar a existência de certo acervo de pensamentos
que se vêm acumulando e que é típico dos liberais.
O
método do liberalismo inclui uma tentativa de modernizar a teologia cristã.
Alegam os liberais que o mundo tem passado por mudanças radicais desde quando
foram elaborados as primeiras confissões de fé da cristandade; isso faz com que
elas assumam feição arcaica e destituída de realidade ao homem atual. Temos,
então, de repensar o cristianismo de modo que ele seja expresso em formas
mentais inteligíveis ao mundo de nossos dias. Fosdik costumava dizer que temos
de expressar a essência do cristianismo, suas “experiências permanentes”, mas
não é legítimo procurar identificar essas experiências com as categorias
transitórias nas quais foram expressas no passado. Por exemplo, diz Fosdick,
uma das experiências permanentes do cristianismo tem sido a convicção de que
Deus triunfará definitivamente sobre o mal. Essa convicção tem sido retratada,
tradicionalmente, mediante a categoria do Segundo Advento de Cristo nas nuvens
para destruir as forças do mal e estabelecer o domínio do bem. Já não podemos
manter essa categoria antiquada, mas podemos ainda crer na verdade que se
procurava exprimir através da antiga maneira de se dizer. Podemos continuar
trabalhando sob a convicção de que, mediante a dedicação de seus seguidores
desprendidos, Deus se encontra no presente empenhado na edificação de seu Reino
e de que haverá uma renovação proposta à nossa vida individual e social,
visando a que toda conduta se conforme à vontade divina. A essência da fé fica,
portanto, estabelecida, diz Fosdick, mesmo que a forma de enunciação na qual se
encontrava revestida seja abandonada como coisa ultrapassada.Na próxima postagem estarei prosseguindo o assunto e o concluindo